Wednesday, July 03, 2013

El artista inconfesable - João Cabral de Melo Neto

EL ARTISTA INCONFESABLE

Hacer cualquier cosa es inútil.
No hacer nada es inútil.
Pero entre el hacer y el no hacer
más vale lo inútil del hacer.
Pero no, hacer para olvidar
que es inútil: nunca olvidarlo.
Pero hacer lo inútil sabiendo
que ello es inútil, y sabiendo bien
que es inútil y que su sentido
no será presentido siquiera,
hacer: porque ello es más fácil
que el no hacer, y difícil-
mente se podrá decir
con más desdén, o decir entonces
más claramente al lector Nadie
que lo hecho lo fue para nadie.

João Cabral de Melo Neto (Brasil, 1920-1999)
Traducción de Carlos Ciro


Original:
O ARTISTA INCONFESÁVEL // Fazer o que seja é inútil. / Não fazer nada é inútil. / Mas entre o fazer e não fazer / mais vale o inútil do fazer. / Mas não, fazer para esquecer / que é inútil: nunca o esquecer. / Mas fazer o inútil sabendo / que ele é inútil, e bem sabendo / que é inútil e que seu sentido / não será sequer pressentido, / fazer: porque ele é mais fácil / do que não fazer, e dificil- / mente se poderá dizer / com mais desdém, ou então dizer / mais direto ao leitor Ninguém / que o feito o foi para ninguém.

No comments:

Dos poemas de Eugénio de Andrade

  Dos poemas de Eugénio de Andrade (Portugal, 19-1-1923 - 13-6-2005).      Las palabras Son como cristal, las palabras. Algunas, un p...