Dos poemas de Eugénio de Andrade
Dos poemas de Eugénio de Andrade (Portugal, 19-1-1923 - 13-6-2005).
Las palabras
Son como cristal,
las palabras.
Algunas, un puñal,
un incendio.
Otras,
apenas vaho.
Secretas vienen, llenas de memoria.
Inseguras navegan:
barcos o besos,
las aguas estremecen.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tejidas están de luz
y son la noche.
E incluso pálidas
recuerdan aún verdes paraísos.
¿Quién las escucha? ¿Quién
las recoge, así,
crueles, deshechas,
en sus conchas puras?
Eugénio de Andrade, (En: ‘O coração do dia’, 1958)
Trad. CC.
Original portugués:
As palavras // São como cristal, / as palavras. / Algumas, um punhal, / um incêndio. / Outras, / orvalho apenas. // Secretas vêm, cheias de memória. / Inseguras navegam: / barcos ou beijos, / as águas estremecem. / Desamparadas, inocentes, / leves. // Tecidas são de luz / e são a noite. / E mesmo pálidas / verdes paraísos lembram ainda. / Quem as escuta? Quem / as recolhe, assim, / cruéis, desfeitas, / nas suas conchas puras?
Despedida
Cosecha
todo el oro del día
en la espiga más alta
de la melancolía.
Eugénio de Andrade, (En: 'Ostinato Rigore’, 1964)
Trad. CC.
Original portugués:
Despedida // Colhe / todo o oiro do dia / na haste mais alta / da melancolia.
Comments