Saudade - Paulo Borges

Saudade. Un poema  y un fragmento de ensayo de Paulo Borges.

SAUDADE

Ilusión de que haya origen
y fin,
fecundas la virginidad
que no cesa.

Deseas lo que niegas,
cuanto eres rechazas
por el ansia de lo que no puedes:
regresar a lo que nunca dejaste.

Eres absurda
maravillosa
vasta y profunda
infinita.

Eres todo,
la vida y la muerte
que no son.
Nunca fuiste, no eres y no serás.
Por eso todo te canta y sufre:
ilusión de haber.

Traducción de Carlos Ciro

Texto original:

SAUDADE
Ilusão de haver origem / e fim, / fecundas a virgindade / que não cessa. // Desejas o que negas, / rejeitas o que és / por anseio do que não podes: /regressar ao que nunca deixaste. // És absurda / maravilhosa /vasta e profunda / infinita. // És tudo, / a vida e a morte / que não são. /Nunca foste, não és e não serás. / Por isso tudo te canta e sofre: / ilusão de haver.


Y el fragmento inicial de su ensayo "De la saudade como vía de liberación":


«Hay instantes en que, desprevenidos y sin intenciones, libres de los hábitos mentales y emocionales, súbitamente nos sorprendemos traspasados por un inefable sentimiento de infinito, plenitud, felicidad, potencia, luminosidad y libertad. No somos sino eso que sentimos y sabemos entonces por la más simple evidencia, que es esa la realidad y la verdad primera, última y eterna de todo. Porque en esos instantes la plenitud que sentimos es la plenitud, no nuestra irreal plenitud, sino la plenitud de todas las cosas. La plenitud que se siente sin la escisión sujeto-objeto, la plenitud que se ve sin concepto, la plenitud en que cuerpo, sentidos, mente y consciencia están todos dando testimonio y celebrando su eterna infinitud, perfección y esplendor. Una plenitud sin centro ni periferia, sin interior ni exterior, sin poseedor ni destinatario. Una plenitud sin porqué ni para qué. La plenitud.
    Entonces somos y sabemos todo, sin carecer del conocimiento de nada. Lo vemos todo, sin pensar en nada. Y también vemos, tal vez en el amago de esos instantes o en su recuerdo reflexivo y saudoso, que no somos y que nada es como antes nos concebíamos y lo concebíamos. Vemos que no somos nada es como nos dicen. Vemos que nada es, nunca fue y nunca será realmente separado de eso que nosotros sentimos. Vemos que nada, nosotros, los otros, la totalidad de lo que antes pensábamos como seres, cosas y fenómenos, separados, finitos y limitados, con entidad, forma y características propias, con origen, duración y fin, con nacimiento, vida y muerte, nunca verdaderamente existió así, existe o existirá. Todo se revela simultáneamente interligado, osmótico e irradiante de un "no sé qué", en una gloria irreductible a todo concepto y palabra. Todo está vacío de límites y pujante de esplendor e intensidad. En esos instantes exultamos y el mundo es Fiesta. Sin porqué ni para qué. Sin quién ni qué.»

Texto original y fuente:

«Instantes há em que, desprevenidos e sem intenções, livres dos hábitos mentais e emocionais, subitamente nos surpreendemos trespassados de um inefável sentimento de infinito, plenitude, felicidade, potência, luminosidade e liberdade. Não somos senão isso que sentimos e sabemos então, pela mais simples evidência, ser essa a realidade e verdade primeira, última e eterna de tudo. Porque nesses instantes a plenitude que sentimos é a plenitude, não a nossa irreal plenitude, mas a plenitude de todas as coisas. A plenitude que se sente sem cisão sujeito-objecto, a plenitude que se vê sem conceito, a plenitude em que corpo, sentidos, mente e consciência são tudo a testemunhar e celebrar a sua eterna infinitude, perfeição e esplendor. Uma plenitude sem centro nem periferia, sem interior nem exterior, sem possuidor nem destinatário. Uma plenitude sem porquê nem para quê. A plenitude.
    Então somos e sabemos tudo, sem que nada careçamos de conhecer. Vemos tudo, sem em nada pensar. E também vemos, quer no âmago desses instantes, quer já na sua memória reflexiva e saudosa, que não somos e nada é como antes nos concebíamos e o concebíamos. Vemos que não somos e nada é como nos dizem. Vemos que nada é, nunca foi e nunca será realmente separado disso que nos sentimos. Vemos que nada, nós, os outros, a totalidade do que antes pensávamos como seres, coisas e fenómenos, separados, finitos e limitados, com entidade, forma e características próprias, com origem, duração e fim, com nascimento, vida e morte, jamais em verdade assim existiu, existe ou existirá. Tudo se revela simultaneamente interligado, osmótico e irradiante de 'um não sei quê', numa glória irredutível a todo o conceito e palavra. Tudo é vazio de limites e pujante de esplendor e intensidade. Nesses instantes exultamos e o mundo é Festa. Sem porquê nem para quê. Sem quem nem quê.»

(En:Paulo Borges, "Da Saudade como Via de Libertação", QuidNovi, 2008, pp. 87-88.)

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